“... a economia política tende a se garantir sobre a natureza própria da reconstrução inteligível da economia, da relação entre essa reconstrução inteligível e a realidade concreta, de modo a distinguir com segurança os momentos em que o observador apenas se limita a tratar os fatos e os momentos em que indica o que eles deveriam ser.” Raymond Aron. Dezoito lições sobre a sociedade industrial.
2020 é um marco de aceleração de processos políticos, de condensação de ideias e práticas. Parece haver pouco espaço para a criatividade juspositivista de nosso sistema político – das sociedades latinas em geral. Isso é muito, muito bom.
2020 - 4 (terra) - explicitou o fato de que o rei/príncipe (estado/governo) está nu, só que sua nudez, diferentemente do dito em uma famosa canção popular brasileira, não é bela. O que fazer mediante a explicitação?
Um caminho é negá-la e tratar a destruição do véu como algo banal, trivial, sem implicações, como se fosse possível manter a dinâmica anterior. E como dinâmica anterior refiro-me ao esforço trilionário (em impostos) de construir uma visão onde o rei nu, nu não estava e que caminhava como um de nós (re)distribuindo suas(?) benevolências.
Outro caminho é afirmar que quem vê a nudez e afirma que isto não é belo, nega a realidade imediata da beleza estética do rei, envolta nas melhores intenções. Este caminho exige esforços multidimensionais: cognitivos, argumentativos e emocionais (a nudez não humanizaria o rei?). Como é possível perceber, esse caminho é variante do primeiro, mas mais sofisticado, mais “inteligente”. Ambos caminhos levam ao mesmo lugar.
Em novembro de 2020 – faltam poucas semanas - haverá eleições municipais no Brasil. Dadas as magnitudes das consequências das decisões do rei, de seus assessores e operadores de violência diante da circulação do novo Coronavírus estas próximas eleições terão contornos plebiscitários. Este plebiscito, para quem está vivendo a vida apesar das decisões políticas e jurídicas tomadas nas esferas reais, possivelmente gravitará sobre estas 4 questões:
o ataque estatal ao direito de ir e vir foi causa suficiente e necessária para que a taxa de mortalidade de pessoas com covid19 seja o que é e justifica-se por isso?
o quê os políticos eleitos em novembro de 2020 farão para acabar com entraves para que as pessoas possam trabalhar, viver, estudar, se divertir, entre outros verbos que apontam produção de vida?
caso ocorram novas campanhas como as que ocorreram com covid19, a(o) política(o) eleita(o) seguirá a moda autoritária?
tangencialmente, não é necessário acabar com as regras que impedem o aumento da oferta de serviços privados de saúde a preços acessíveis à população? Parte da política de imposto de renda negativo não deveria incluir acesso a serviços de saúde privados?
Conforme o que tenho lido, visto e ouvido em relação à conjuntura atual dos EUA, parece que as próximas eleições por lá também serão plebiscitárias em torno dos eixos covid19 e tolerância a dois tipos distintos de violência: a estatal (policial) e a violência política fomentada por parte dos estatistas.
A União Europeia publicou os resultados de pesquisa de opinião com seus membros(1). As avaliações estão divididas em dois grandes blocos, conforme pode ser visto na figura 1. Além disso, países onde as medidas autoritárias não foram tão intensas, como Dinamarca, tendem a avaliação positivo, o contrário ocorre em países como a Itália.
Figura 1. Distribuição da avaliação sobre as medidas anti-covid19 na União Europeia. |
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Ao que parece 2020 é o complemento do ocorrido em 1989 e 1990: filhos e netos do stanilismo sendo colocados à prova, mas não só esses. Filhos e netos da guerra fria estão em cheque, pois são os que compõem a elite política da maioria dos governos e organizações multilaterais, como a OMS.
NOTA
(1) - A Public Opinion Survey Commissioned by the European Parliament First Results - 14 July 2020. Disponível em https://www.europarl.europa.eu/at-your-service/files/be-heard/eurobarometer/2020/public_opinion_in_the_eu_in_time_of_coronavirus_crisis_2/en-covid19-survey2-key-findings.pdf